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sexta-feira, 6 de junho de 2025

EL CID




Os mais vividos lembram, com certeza com admiração, do guerreiro implacável chamado Rodrigo Díaz de Vivar e que entrou para a história como El Cid.  Dificil esquecer do filme "El Cid"  estrelado por Charlton Heston e Sofia Loren, de 1961.

Os fatos que cercam a vida de Rodrigo Díaz de Vivar são razoavelmente bem documentados. Ele foi um guerreiro medieval, nascido em meados do século XI e falecido em 1099 em Valência. Ele serviu sob o rei Sancho II e o rei Afonso VI, embora tenha sido exilado e posteriormente servido ao reino muçulmano de Saragoça. 

No século XI, La Rioja fazia parte da vasta área desabitada da Península Ibérica que servia de fronteira entre os reinos cristão e muçulmano. Em 1092, um mercenário cristão não hesitou em arrasar aquelas terras, mesmo pertencendo ao Rei Afonso VI. Afirmam os historiadores, que El Cid, cruel e impiedosamente, incendiou todas aquelas terras, arrasando-as completamente da maneira mais cruel e ímpia. Devastou e destruiu toda aquela região, realizando uma pilhagem feroz e desumana.

Como é possível que um mercenário implacável, que vendia seus serviços sem levar em conta a religião de seu empregador, tenha se tornado uma lenda do cristianismo. 

A medievalista Nora Berend, de 59 anos, professora do St. Catharine College, em Cambridge, dedicou um livro, El Cid. A Vida e a Vida Após a Morte de um Mercenário Medieval, para tentar explicar o abismo que separa a Historia à lenda. 

Berend explica em seu livro, é que essa metamorfose começou enquanto El Cid ainda estava vivo. 

A família de Rodrigo, seus descendentes e os monges de San Pedro de Cardeña, entre outros, contribuíram para o desenvolvimento da lenda que o apresenta como o salvador dos cristãos enviado por Deus. 

“Os monges criaram a imagem de um santo Rodrigo, embora a tentativa de canonização em 1554 tenha fracassado. Em todos os casos, a lenda de Rodrigo foi transformada de acordo com as necessidades dos usuários da história.” Essas lendas tornaram-se parte de textos literários, como crônicas, romances, contos de cavalaria e peças teatrais, tornando Rodrigo um herói literário muito conhecido na Península Ibérica.” 

Uma realidade. Com o tempo, muitos grupos encontraram afinidade com a Idade Média, atraídos por diferentes elementos, e não apenas por razões políticas. É claro que uma visão muito seletiva e distorcida da Idade Média é sempre evocada. Possivelmente são os supostos valores "nacionais cristãos", a legitimação da violência contra aqueles que não se conformam, a ideia de que uma sociedade uniforme pode ser criada, que atraem a direita. O mito de El Cid, como muitos outros momentos da Idade Média, assumiu importância crescente hoje, especialmente para a extrema direita política.

Na Espanha, a causa nacionalista foi apresentada como uma cruzada religiosa. Segundo isso, o suposto passado comum do povo espanhol, por meio do qual construíram sua identidade e a própria essência da nação espanhola, era cristão e nacionalista. O legado franquista serve então de inspiração e modelo para a Nova Direita.

A relação entre mitos nacionais e a Idade Média não é de forma alguma exclusiva da Espanha. Não é apenas na Espanha que a história foi derrotada pela lenda. A França, com Joana d'Arc, é um dos muitos exemplos que proliferam por toda a Europa. 

(Extraído do artigo do Guillermo Altres - El País)

Viver é Perigoso 

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