Trinta anos atrás, Umberto Eco proferiu um discurso na Universidade de Columbia que tentou definir os limites do fascismo.
Numa espécie de convite para reconhecer e isolar as premissas culturais do movimento político, o escritor italiano retomou, sem mencioná-la abertamente, a pergunta desarmante colocada por George Orwell meio século antes, perto do fim da Segunda Guerra Mundial:
O que é o fascismo? Eco concentrou-se em observar o fenômeno que havia vivenciado em primeira mão durante sua infância.
Em sua apresentação, ele identifica 14 indicadores do que chama de Ur-fascismo, cujo prefixo alemão significa primordial ou "eterno", como ele mesmo traduz. Esses sinais não apenas ressoam no cenário global, nas relações internacionais ou na degradação de projetos políticos, mas também permeiam o clima das mídias sociais diariamente.
1º - É o "culto à tradição", que não é o mesmo que aceitar ou mesmo defender tradições, mas sim venerá-las;
2º - É "a rejeição da modernidade" e do racionalismo;
3º - É a dedicação absoluta à ação e o desprezo pelo intelectual;
4º - É a negação da crítica: qualquer discordância é traição;
5º - O quinto é o medo da diferença;
6º - Consiste em explorar a frustração social, especialmente a das classes médias que se sentem deslocadas;
7º - É convencer aqueles que não têm ou foram despojados de identidade social do suposto privilégio de pertencer a uma nação ou território;
8º - É um erro de cálculo permanente sobre os inimigos, que são "sempre muito fortes e ao mesmo tempo muito fracos";
9º - É uma concepção da vida como uma guerra permanente;
10 - É uma espécie de "elitismo popular" que leva ao desdém por qualquer pessoa percebida como subalterna.
11º - É o heroísmo fingido;
12º - O machismo;
13º - O "populismo qualitativo da televisão ou da internet, no qual a resposta emocional de um grupo selecionado de cidadãos pode ser apresentada e aceita como a voz do povo".
14º - O último, está relacionado ao anterior e é justamente o “uso da novilíngua”: o trampolim diário de políticos populistas, pregadores e gurus de autoajuda.
El País - Francesco Manetto
Viver é Perigoso