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quinta-feira, 13 de junho de 2024

NOS ENCONTRAREMOS LÁ



Acontecerá entre os dias 9 e 13 de outubro, a 22ª Festa Literária Internacional de Paraty. Será homenageado o jornalista, cronista, contista, romancista, tradutor e teatrólogo João do Rio, como ficou conhecido o carioca de 1881, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho.

Pioneiro da crônica-reportagem e o membro mais jovem a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Homem negro de pele clara, gordo, de origem humilde e compreendido como homossexual, Paulo Barreto enfrentou estereótipos e discriminações, conquistando a ascensão social através de seu trabalho como jornalista. Seus escritos retratavam principalmente a sociedade carioca em seus hábitos, costumes e rituais, focando em seus membros mais requintados e nos mais pobres. Publicou, em vida, extensa bibliografia, tendo feito do jornalismo sua principal fonte de renda.

Tomou o barco em 1921, com apenas 40 anos.

Viver é Perigoso

IA - IGNORÂNCIA ARTIFICIAL


É com acerto que temos o costume de dizer que as pessoas cultas têm uma vida interior rica e ativa, ao passo que os boçais têm a cabeça oca. Nada mais justo. Nada mais preciso. Nada mais óbvio.

Ocorre que isso mudou drasticamente. As novas tecnologias alteraram em definitivo a textura da ignorância. Ela não é mais o que sempre foi, não é mais uma cabeça oca, e já não decorre da escassez de informação e de conhecimento. Na era digital, ela decorre do inverso: o excesso  de desinformação, de bugigangas do entretenimento, de quinquilharias imaginárias e de fanatismos virtuais.

Hoje, a ignorância não é uma casa inabitada, desprovida de ideias, mas uma edificação repleta de baboseiras desarticuladas.

O que temos agora não é mais a ignorância da vacuidade, mas uma outra, a de overdose, a ignorância fabricada por algorítimos gelados e por tentáculos de silício. Estamos falando da ignorância artificial, uma forma densa e totalizante que ocupa e vicia o hospedeiro. Ao contrário do pensamento, que liberta e dá a ver, a ignorância artificial aprisiona e cega. Ela é o insumo de maior valor nas estratégias dos autocratas: entregue de graça para cada indivíduo, custa caro, para a sociedade.

Por isso, os ignorantes de hoje não são mais como os de antigamente. Não são como a terra bruta ou a flor inculta, que nunca receberam o toque do jardineiro - foram adestrados pela selvageria e andam carregados até as tampas de preconceito e de estereótipos, destituídos de imaginação própria. Não são um campo aberto à espera da luz e da letra - são corpos fechados e blindados contra qualquer gota de cultura. A ignorância artificial é a maior. epidemia do nosso tempo.

E agora ? Existirá cura para tamanha enfermidade ? Talvez não.

Com sua substância maciça e, ao mesmo tempo maleável, a ignorância artificial fecha todas as saídas e barra todas as entradas, de tal maneira que para os fanáticos não há educação ou experiência que dê jeito: nenhuma informação de qualidade os alcança; nenhum conhecimento os afeta. Os novos ignorantes foram abduzidos por uma argamassa de obscurantismo luminiscente que os impede de saber de si, de perguntar ao outro, de duvidar do que veem, de repensar o mundo. Eles não tem senso de humor. A ignorância da era digital os ocupa feito uma forma de trabalho que não os deixa trabalhar. É uma forma de torpor que não os deixa gozar - e um bordão hipnótico que não os deixa conhecer a si mesmos.

Ao menos no horizonte imediato, não há esperança. Nesses dias de tantas proezas tecnológicas e tantas máquinas miraculosas, não é apenas a inteligência que se tornou artificial, não é somente a intimidade que pode ser confeccionada pelos chips, não é apenas o espírito que podeser replicado em laboratório. A ignorância também. A ignorância, quem diria, até ela, agora também é fabricada pela técnica.

Eugênio Bucci

Viver é Perigoso

NEM NA TRAVE

 

Viver é Perigoso