
Como sabem em 2004 num momento de pouca (ou muita) lucidez aceitei ser candidato a Prefeito de Itajubá. Tive como candidato a Vice-Prefeito na chapa, o meu grande amigo e colega, Prof. Paulo César Guimarães, sempre para mim, o "Mugango".
Uma tarde, já próximo das eleições, logo após o almoço fomos de carro (somente ele +eu) para o Jardim das Colinas. Estacionamos na última rua, bem no alto do morro. Nossa intenção era caminhar casa a casa nos apresentando para as pessoas.
Para a nossa surpresa, na última rua tinha pouquíssimas casas e algumas barracas cobertas de plásticos pretos, desses de sacos de lixo.
Sentimos a precariedade do local e em silêncio trocamos olhares pensando em sair disfarçadamente indo para a rua de baixo.
Não deu.
Suando muito e com ar de fadiga, possívelmente em consequência do peso que empurrava e da subida íngreme, chegava uma jovem.
Empurrava um carrinho de madeira, lotado de copos e garrafas plásticas usadas.
Ao ser cumprimentada, nos informou ser catadora de plásticos nos lixos para revenda à reciclagem. Disse ela que, diariamente, saia de casa bem cedo só voltando naquele horário.
Na porta do seu barraco, um casalzinho de crianças, pouco vestidas e sujinhas sairam e se abraçaram a mãe. Com a cena já senti um aperto no coração.
Adiantou ela não ter marido e que as crianças ficavam sozinhas até a sua volta.
Ficamos desconcertados com a situação.
Uma das crianças (uma meninha) remexeu no carrinho de resíduos da mãe, e achando uma embalagem de danone praticamente vazia, com avidez, passava os dedinhos pelo fundo da embalagem e apanhando o restinho, o levava até a boquinha.
Olhei para o Paulo César, que acendendo um cigarro, escapou devagarinho e foi esperar próximo ao nosso carro.
Senti um nó na garganta, um sensação de total impotência, parecia que havia caído sobre mim todos os pecados do mundo. Não sabia o que dizer.
Com um aceno pedi licença para a moça e caminhando para o carro com lágrimas rolando, arranquei de volta para a cidade.
Até deixar o Paulo César na entrada do seu prédio, não trocamos uma só palavra.
Fui para casa achando que não valia a pena a nossa luta. Era desigual.
Eu não estava preparado para ser político. Tinha sentimentos.
No dia seguinte pedi para uma pessoa amiga levar alimentos (danones) e algum dinheiro para aquela família, mesmo sabendo que era pouco e não iria adiantar de nada.
Fomos até o fim e terminamos perdendo, porém não vencidos.
Aquela imagem nunca mais deixou o meu pensamento e continua me entristecendo, pois sei que em outros lugares aquela situação se repete.
Creiam isso não é romance. É verídico.
ER