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"Rabo Mole" - Foto Assis Horta
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O projeto de pesquisa pesquisa sobre a obra do fotógrafo Assis Horta (95 anos), deu a Guilherme Horta (o sobrenome é coincidência, eles não são parentes), o Prêmio Marc Ferrez de
Fotografia 2012, categoria Reflexão Crítica, e resultou na exposição atualmente
em cartaz em Ouro Preto.
Na entrevista a seguir, Assis Horta, aos 95 anos, conta
que fotografou de tudo nesta vida.
"... Perdi o pai aos 10 anos, éramos dez irmãos, tive que
trabalhar. Era 1928. Arranjei emprego no Photo Werneck, de Celso Tavares
Werneck, em Diamantina mesmo. Ele me ensinou o trabalho, começando pelo quarto
escuro, e depois acabei comprando o estúdio dele. De 1934 a 1967 fotografei de
tudo. Festas, procissões, quermesses, casamentos, batizados e principalmente fiz
os 3 x 4 para a carteira profissional. Meu acervo tem mais de 96 mil chapas de
vidro de 9 x 12 cm.
Gosta de conversar com as pessoas que iam ao estúdio. Fiz muito retrato fiado,
pra pagar no fim do mês. De outros eu nem cobrava, porque eu queria só
documentar, como o Rabo Mole, esse senhor de roupa rasgada (foto acima). Era um
personagem popular na cidade. Parava na frente do estúdio e ficava fazendo pose.
Quis ser fotografado, mas do jeito dele. Nada foi capaz de convencê-lo a vestir
o paletó e a gravata que eu mantinha lá para as fotos 3 x 4.
Hoje só fotografo os filhos, que são 10, os netos (18) e as bisnetas (7). Uso uma
Rolleiflex. Esse negócio de câmera digital não tá com nada. A turma tira foto e
guarda. Eu gosto do papel, que posso mostrar pra todo mundo.
Me falta fotografar mulher nua. Nunca fiz. Uma vez dois casais me contrataram para fotografar a
viagem deles pela Europa. Fiquei cinco meses lá, 14 países. Em Paris, uma das
senhoras, que gostava de um cabaré, me atormentou para fotografar as dançarinas
sem roupa. Eu só disparava o flash. Não fiz nenhuma foto de mulher nua. Mas quem
sabe um dia.
(do Estadão)
ER