Tem o tamanho de meia folha de papel ofício e mais de 80 anos de idade. Passa facilmente despercebida entre outros mil itens mais vistosos da exposição “Hitler e os alemães: povo e crime”.
Ainda assim, é essa folha de 15 por 21 centímetros, chama a atenção.
O item registra o telefonema de um engenheiro para a sede de sua empresa, cobrando a entrega de uma mercadoria atrasada. Coisa corriqueira, em suma.
O telefonema foi atendido em 17 de fevereiro de 1943 por Fritz Sander, engenheiro-chefe da firma J. A. Topf & Söhne. Depois foi transcrito, datado, fichado, numerado, carimbado, encaminhado, rubricado cinco vezes e, por fim, arquivado no fichário da casa.
A indústria J. A. Topf & Söhne, de porte médio, era dirigida por dois irmãos e tinha sede em Erfurt, cidade central da Alemanha.
O autor do telefonema, Karl Schultze, chamara de Auschwitz, a 686 quilômetros dali, na Polônia ocupada. A mercadoria atrasada era um “exaustor número 450 para as câmaras de gás”, que teria sido despachado em 18 de novembro do ano anterior e não chegara.
“Dada a urgência de utilização do equipamento”, anotou, metódico, o Engenheiro Sander, “devemos enviar de imediato uma nova peça para possibilitar a sua rápida instalação.”
Schultze fora despachado de Erfurt três vezes para Auschwitz em 1943 a fim de supervisionar a instalação e funcionamento dos crematórios.
No telefonema, ele também solicitava providências para que vinte guinchos manuais encomendados a outro fabricante chegassem logo.
Chocante, outra carta na qual a Topf & Söhne oferece um método avançado para acelerar o processo de incineração das pilhas de crianças dizimadas nas câmaras de gás. Para pôr os corpos na fornalha, dizia o documento, recomendamos um simples garfo de metal sobre cilindros. Cada fornalha terá um forno medindo 60 centímetros por 45, uma vez que não serão usados caixões. Para transportar os cadáveres dos locais de armazenamento às fornalhas, sugerimos o uso de carrinhos leves, cujo diagrama em escala segue anexo.
Viver é Perigoso