Escreveu hoje o Élio Gaspari. Faz a gente dar uma repensada no assunto.
Está ocorrendo uma certa confusão entre as preferências eleitorais conservadoras e aquilo que seria um fenômeno chamado de bolsonarismo. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Um conservador não é necessariamente um bolsonarista.
Se o bolsonarismo fosse o que parece ser, Alexandre Ramagem, candidato a prefeito do Rio de Janeiro, estaria disputando competitivamente com Eduardo Paes. Pelo Datafolha, Paes tem 56% das preferências, e Alexandre Ramagem, fiel escudeiro de Jair, tem 9%.
Em 2018, quando uma onda antipetista e conservadora varreu o país, Jair levou a Presidência, elegeu seu filho para o Senado e o "poste" Wilson Witzel levou o Governo do Rio.
Já em São Paulo, dois candidatos com atitudes diferentes (Pablo Marçal e Ricardo Nunes) unidos contra um candidato de esquerda (Guilherme Boulos) têm 40% das preferências. Esse é o tamanho do bloco conservador. O bolsonarista oficial seria Nunes que, estando na prefeitura, tem 19% e foi ultrapassado por Marçal, o dissidente.
Em 2018, Bolsonaro encarnou um sentimento antipetista e conservador. Passados seis anos, quatro dos quais com ele no Planalto, o voto conservador, quando tem caminho, afasta-se dele. No Rio, ele pode se juntar ao bloco de Eduardo Paes. Em São Paulo, essa opção não parece disponível. Diante disso, ele migra para Nunes ou Marçal. Eleitores paulistanos de Jair dispostos a seguir o candidato que ele indicar talvez estejam pouco acima dos 9% de Ramagem no Rio.
O eleitor brasileiro só seguiu maciçamente um líder político que, a partir do governo, deu-lhe resultados sociais e políticos. Foi Getúlio Vargas. Depois dele, veio Lula, em ponto menor, até porque mais de meio século separa os dois.
O suposto bolsonarismo é uma tendência conservadora e antipetista, apenas isso.
Não existe bolsonarismo, o que há na cena é um antipetismo, essencialmente conservador.
O ex-capitão ajudou a tirá-lo do armário. Antes de Bolsonaro, o Brasil teve uma ditadura de 21 anos com quatro generais num grande armário. Nenhum deles se dizia conservador, muito menos direitista.
O conservadorismo segue caminhos próprios. Esse é o caso de Ronaldo Caiado em Goiás, que começou a liderar o agronegócio quando Bolsonaro ainda era um capitão indisciplinado. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas é uma criação de Bolsonaro, mas, governando o estado, segue-o de forma tímida.
De certa maneira, a ideia de que exista um bolsonarismo afaga o ego de Jair Messias e convém ao PT, pois associa alguns adversários conservadores à gestão do ex-presidente.
Esse suposto bolsonarismo tornou-se uma película que embaça a vista da janela. Um conservador não precisa de Messias.
Viver é Perigoso