CHUTANDO O BALDE

Não estão erradas as recomendações para se evitar conversas políticas em almoços/churrascos com amigos e conhecidos. Às vezes é melhor não comparecer ao evento. Em alguns não tem como.

Um camarada, de longa data, me relatou por telefone um episódio acontecido com ele. 

Num daqueles inevitáveis churrascos/almoços realizado ontem, do qual não consegui desvencilhar-me, vi colocada à prova a minha já famosa "curta paciência", quando um nosso ex-colega, depois de umas cervejinhas a mais,    disparou a criticar a extraordinária obra e a pessoa do mineiro Sebastião Salgado que tomou o barco esta semana. Razão: lendo o noticiário que inundou páginas do mundo sobre a obra e partida do fotógrafo, ficou sabendo sobre sua atuação como ativista de esquerda e sua ida para Paris em 1969, escapando da ditadura militar.

Não deu para aguentar quando o amigo, apoiado pela maioria, acrescentou que "não têm um artista ou alguém metido a intelectual que não seja de esquerda e venha com esse papo de preservação da natureza, defesa de comunidades indígenas e outras baboseiras, segundo ele.

Confesso que resolvi "chutar o balde", como dizem na Boa Vista é claro. Sem alterar o tom de voz e pausadamente, tomei a liberdade de discordar quanto à; inexistência na história de expressões artísticas de direita e citei a cineasta alemã Leni Riefenstahl.

Dado o silêncio, conclui: Leni Riefenstahl foi a cineasta inovadora e criativa pelos filmes na segunda metade da década de 30. Suas obras mais famosas são os filmes de propaganda que ela realizou para o Partido Nazista alemão. Ela teve um relacionamento amigável com Adolf Hitler, que colaborou em alguns dos seus filmes. Após a guerra, Riefenstahl foi presa, não sendo porém acusada de crimes de guerra. A cineasta tomou o barco em 2003 e sempre negou ter conhecimento do holocausto.

Minha última frase foi proferida já de longe me despedindo.

Viver é Perigoso