Escreveu Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia e colunista do jornal The New York Times.
O Sr. Donald (de hoje em diante será apenas Sr. Donald) tem usado uma palavra feia para descrever a vice-presidente Kamala Harris.
Estou falando de "comunista", um insulto ecoado por alguns de seus aliados. Por exemplo, Elon Musk, em uma postagem no X, declarou "Kamala é literalmente uma comunista", demonstrando, entre outras coisas, que ele literalmente não sabe o significado de "literalmente".
Agora, Harris obviamente não é comunista. Então, por que Trump diz que ela é?
Bem, a tática de acusar alguém de ser comunista, assim como a de usar questões raciais —que Trump também faz em relação a Harris— faz parte da tradição política americana (e de uns tempos para cá, também da direita brasileira).
Por exemplo, no início de sua carreira política, Ronald Reagan participou da Operação Coffee Cup, um esforço para convencer os eleitores de que o seguro de saúde governamental, na forma do Medicare*, destruiria a liberdade americana.
* Medicare é o sistema de seguros de saúde gerido pelo governo dos EUA e destinado às pessoas de idade igual ou maior que 65 anos ou que verifiquem certos critérios de rendimento.
Também é verdade que o discurso político americano carece de um termo amplamente aceito para pessoas que não acreditam que o governo deva controlar os meios de produção, mas que acreditam que devemos ter políticas para limitar a desigualdade econômica e prevenir dificuldades evitáveis.
Para encontrar tal termo, é necessário ir a países europeus onde era importante distinguir entre partidos que apoiavam uma forte rede de segurança social e partidos comunistas, que não eram a mesma coisa. Nesses países, políticos como Harris, que apoiam uma economia de mercado livre com uma robusta rede de segurança social, são conhecidos como social-democratas.
A questão é que a social-democracia não é uma posição radical. Pelo contrário, tem sido a norma por gerações em todas as nações ricas, incluindo a nossa.
O que nos traz de volta a Harris. Ela é uma social-democrata que favorece programas governamentais que mitigam a dureza de uma economia de mercado —mas quase todos os democratas, a maioria dos americanos e, quer percebam ou não, muitos republicanos também são assim.
Ela quer expandir a rede de segurança social, especialmente para famílias com crianças, mas o conjunto de políticas que ela apoia não representaria uma mudança fundamental no papel do governo. Ela já defendeu um sistema de saúde de pagador único, mas desde então recuou dessa posição, e se você acha que um sistema de pagador único é uma ideia radical e antiamericana, o que você acha que é o Medicare?
Viver é Perigoso
Nenhum comentário:
Postar um comentário