“A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente, o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo. Vivi num mundo de homens guardando em mim o melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos.”
Simone de Beauvoir (Paris 1908/1986)
Texto lido no último domingo (18) para 15.000 pessoas presentes no Parque do Ibirapuera pela Dona Arlette Pinheiro Monteiro Torres, simplesmente Fernanda Montenegro, a grande dama da dramaturgia brasileira e a maior atriz da história do Brasil pelo extenso trabalho no cinema, teatro e televisão. Completará 95 anos no dia 16 de outubro.
Em 1999, foi condecorada com a maior comenda civil do país, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito, "pelo reconhecimento ao destacado trabalho nas artes cênicas brasileiras", entregue pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Em março de 2022, tomou posse da cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras, sendo a 9.ª mulher e a primeira atriz a entrar na lista dos imortais da ABL.
Viver é Perigoso
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