Translate

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

TOMOU O BARCO



"...A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."

Marina Colasanti

Marina, Moça Bonita, escritora, contista, jornalista, tradudora e artista plástica ítalo-brasileira, completou 87 anos de idade no dia 26 de setembro último. Nasceu na cidade de Asmara, capital da Eritreia. Passou parte da infância em Trípoli, na Líbia, e também na Itália. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1948, Colasanti e sua família emigraram para o Brasil em 1948, fixando residência no Rio de Janeiro.

Nascida numa família de artistas, neta de um professor de uma escola de artes, crítico de arte e escritor, filha de Manfredo Colasanti e irmã de Arduino Colasanti, ambos atores, e sobrinha-neta de Gabriela Besanzoni , cantora lírica, Colasanti esteve sempre cercada por arte.

Durante os anos de 1952 e 1956, estudou pintura com Caterina Baratelli, e em 1956 entra para a Escola Nacional de Belas Artes, na cadeira de Professorado de Desenho. A sua formação como artista plástica possibilitou que ela mesma pudesse, mais tarde, ilustrar suas obras.

Em 1962, começou a trabalhar como jornalista no Jornal do Brasil, onde trabalhou por 11 anos e em diversas funções: redatora, repórter, editora, colunista e cronista. Depois, foi trabalhar na editoria.

Casada com o também escritor Affonso Romano de Sant`Anna .

Drama: Em 2021 Marina perdeu a sua filha Fabiana.

Pois é...Marina tomou o barco hoje, aos 87.

Viver é Perigoso

Nenhum comentário: