Ana Mendonça, do jornal O Estado de Minas, esclarece com propriedade o que aconteceu e o que deve vir por aí.
Desde tempos imemoriais, a literatura nos alerta sobre o poder das narrativas: histórias bem-contadas moldam percepções, reescrevem realidades e, muitas vezes, influenciam o curso da história. O deputado federal Nikolas Ferreiraparece ter assimilado essa lição com precisão. Mais do que discursar, ele domina a arte de fabricar e controlar narrativas.
Nos últimos dois dias, um vídeo protagonizado pelo mineiro viralizou nas redes sociais, apresentando uma distopia: um governo Lula, que no futuro, poderia taxar o Pix.
A crítica não foi fortuita, mas parte de uma estratégia para reforçar a imagem de um governo inimigo dos mais pobres.
Enquanto Nikolas Ferreira se afirma com a destreza de um maestro regendo uma orquestra em chamas, o governo Lula tenta conter as labaredas de um incêndio que já se alastra.
A comunicação fragilizada, em meio a reformulações anunciadas desde a última terça-feira , revela um Planalto vulnerável diante de um adversário incansável. Nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o ato normativo da Receita sobre o monitoramento das movimentações por Pix será revogado.
Nos bastidores, auxiliares do presidente Lula demonstram crescente incômodo. O vídeo do deputado mineiro viralizou antes que o governo conseguisse lançar sua campanha desmentindo qualquer intenção de taxar o Pix.
Nas últimas semanas, deputados de diversas regiões do país já vinham insinuando a possibilidade de taxação, preparando o terreno para o golpe narrativo. O governo, percebendo o avanço dessa versão, precisou reorganizar sua comunicação. Foi nesse vácuo que Nikolas Ferreira se antecipou. O deputado negou a taxação, mas ao mesmo tempo lançou novas ideias no ar, ampliando o desgaste.
Enquanto a peça jairzista ganha força nas redes sociais, a equipe do novo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, corre contra o tempo para reagir e tentar reverter os danos. Nikolas, inclusive, desafiou o novo secretário sobre o número de alcance nas redes. Até o fim da tarde de ontem, o vídeo do deputado mineiro tinha atingido 200 milhões de visualizações.
O texto aponta que a estratégia de Nikolas Ferreira vai além de críticas superficiais: trata-se de um discurso construído com meias verdades e omissões calculadas. O deputado sabe onde pressionar, quais medos despertar e como transformar palavras em armas políticas.
No entanto, o mais alarmante é o terreno no qual tudo isso se desenrola: um palco em que a manipulação é a norma e a verdade se torna apenas mais um instrumento de jogo. Nikolas Ferreira, com seu carisma inegável, se firma como um ícone da resistência direitista, alimentando o poder das narrativas em um mundo digitalizado. Inclusive, comemorou: “Grande dia”. No jogo de sombras e luzes da política, o reflexo no espelho – distorcido e estratégico – é tudo o que sobra. E, talvez, seja justamente esse reflexo que molda os próximos passos dessa disputa.
O papel das big techs: as redes sociais não apenas amplificam discursos, mas são essenciais para a propagação de narrativas. “Nikolas pode até ser habilidoso em criar e espalhar mentiras, mas ele tem a seu favor a força dos algoritmos dessas plataformas. Eles sabem exatamente qual conteúdo deve ser entregue a mais ou menos pessoas. Isso transforma a manipulação em algo ainda mais eficiente, com um alcance praticamente imbatível, alimentando um ciclo de desinformação que favorece discursos como o dele."
O Estado de Minas
Viver é Perigoso
Um comentário:
Grande garoto.
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