"Uma História (Muito) Curta da Vida Inteira" - Henry Gee - Editora Fósforo - 275 páginas
Com admirável capacidade de síntese, Henry Gee — que há trinta anos é editor da revista Nature, para a qual também escreve — responde em doze compactos capítulos às perguntas de onde viemos e para onde vamos.
Ao sobrevoarmos os 4,6 bilhões de anos da vida na Terra, exploramos ao máximo os detalhes da evolução numa aventura de esponjas, répteis, aves, dinossauros, mamíferos, primatas e uma profusão de outros seres que parecem saídos de fantasias remotas. Fossem cianobactérias ou cobras gigantescas, passando dos oceanos para a terra firme, as criaturas deste planeta enfrentaram inúmeras alterações químicas e predadores vorazes, obrigadas a se adaptar para talvez chegar ao ecossistema que nós humanos conhecemos.
Segue um pequeno e emocionante trecho do livro, para se ter uma ideia:
"Há cerca de 160 milhões de anos, no final do Jurássico, um choque no distante cinturão de asteroides produziu um astro de de quarenta quilômetros de diâmetro, hoje conhecido como Baptistina, junto com uma saraivada de mais de mil fragmentos, cada um com mais de um quilômetro de diâmetro, alguns muito maiores. Esses arautos da desgraça se dispersaram pelo sistema, por perto do sol. Cerca de 100 milhões de anos depois, um deles atingiu a Terra. Mergulhando como uma bomba em trajetória íngreme no Nordeste do céu, o corpo que pode ter tido até cinquenta quilômetros de diâmetro, atingiu a costa do que hoje é a península de Yucatan, no México, a vinte quilômetros por segundo, penetrando na crosta e a derretendo. Um clarão ofuscante, seguido de um vendaval de mil quilômetros por hora e um ruído além da imaginação destruíram por completo a vida em toda a região do Caribe e em grande parte da América do Norte, antes que o mundo inteiro fosse bombardeado por explosivos incendiários, produzindo um vento que soprava em fornalha e transformava árvores em tochas. Tsunâmis puxaram a água de todo o golfo do México para o mar antes que uma onda de cinquenta metros voltasse e atingisse a costa avançando mais de cem quilômetros pelo continente. Na estratosfera, o gás dióxido de enxofre gasoso criou nuvens que, junto a poeira, bloquearam o sol, mergulhando o mundo em um inverno que durou anos. Nesse meio tempo, desapareceram todos os dinossauros. A cratera resultante tinha 160 quilômetros de diâmetro. Três quartos de todas as espécies foram extintos, os seres vivos voltaram ao ponto zero"
Voltando à apresentação:
Se hoje o aquecimento global é uma realidade que com frequência causa pânico, dada a iminência da catástrofe, pode parecer estranho que este livro seja capaz de tornar confortável a certeza da extinção.
Mas Uma história (muito) curta da vida na Terra, vencedor do prêmio de livro científico de 2022 da Royal Society, cumpre essa tarefa com vivacidade ao universalizar o fim: não só a vida individual acaba, como a de uma espécie inteira, de um reino, de um bioma, e por que não a de um planeta?
Mas Uma história (muito) curta da vida na Terra, vencedor do prêmio de livro científico de 2022 da Royal Society, cumpre essa tarefa com vivacidade ao universalizar o fim: não só a vida individual acaba, como a de uma espécie inteira, de um reino, de um bioma, e por que não a de um planeta?
Aos poucos, o medo de desaparecer vai sendo substituído por um doce sabor de pertencimento e continuidade. Não estamos sós.
Viver é Perigoso
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