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domingo, 5 de janeiro de 2025

PÁGINA DE DIÁRIO

 


Você conheceu a cantora Ângela Maria? Dona de uma das melhores vozes da MPB e eleita Rainha do Rádio em 1954?
Sua bela e afinada voz se prestou para gravar em 1972 uma música que muito me irritava e muito me cansou, foi o Hino do Sesquicentenário da Independência do Brasil, de autoria de Miguel Gustavo.
Desde então o termo sesquicentenário me provoca antipatia porque exaustivamente os professores de Educação Moral e Cívica e OSPB ensinaram os alunos a cantar o tal hino para as comemorações do 7 de setembro. Ouvi demais, cada hora era uma turma ensaiando no pátio da escola, ou na própria sala de aula, comprometendo as aulas das outras turmas. Nossos ouvidos foram à exaustão de tanto ouvi-la.
Que Independência era aquela com o terceiro período de ditadura militar que elevou drasticamente a nossa dívida externa, que reprimia as instituições civis e em que a manifestação de opinião contrária ao sistema era proibida?
Isso sem citar as torturas e assassinatos ocorridos naquele período chamado de "Anos de chumbo ".
Mas hoje, o termo "Sesquicentenário" me voltou de forma mais simpática com a crônica do Edson Riera lá de Itajubá.
Ele não falou do Sesquicentenário da Independência do Brasil e sim dos 150 anos da fundação do jornal O Estado de S. Paulo. Ele nem usou em seu texto esse palavrão da minha implicância, mas o assunto me empolgou e muuuuito.
Agora, mudo de "pato para ganso" ou de "alhos para bugalhos" pois um assunto puxou outro e, de forma agradável, a história da fundação do Estadão trouxe às minhas lembranças as diversas visitas que fiz com meus alunos para conhecer o enorme parque gráfico lá da Engenheiro Caetano Álvares, no Bairro do Limão.
Por muitos anos seguidos fui com alunos da oitava série , ( hoje nono ano) do Ensino Fundamental conhecer a redação desse jornal: sua história, seu arquivo, o processo gráfico, as enormes máquinas funcionando, o processo de distribuição e a sala de redação da época em que muitos jornalistas trabalhavam presencialmente.
Posso até dizer que quase virei amiga de José Nêumane Pinto que muitas vezes estava por lá. Mas, cá entre nós , eu queria conhecer era o Clóvis Rossi. (rsrsrs)
Mas o que ficou hoje comigo, o dia inteiro, foi a vontade de registrar essas lembranças antes que a memória me traia.
Remexi então no meu baú concreto e achei uma cópia do jornal número 1 do dia 04/01/1875, conforme Edson Riera citou no texto dele, quando ainda era chamado "Província de São Paulo " .
Achei também uma cópia da edição de 13/12/1968, a que os leitores não tiveram acesso. Claro, após o decreto do AI-5, a censura bloqueou a publicação da verdade. Foi quando a obra de Camões passou a preencher os espaços das notícias censuradas pois elas poderiam suscitar revolta contra o regime. Não se podia informar os leitores da aberração ditatorial. E assim, entre agosto de 1973 e janeiro de 75 a censura se instalou na redação do Estado. O autoritarismo ditou as normas naqueles dezessete meses.
Do meu baú também saíram boas lembranças: as boas matérias de Frei Betto, do Josias, as crônicas de Ignácio de Loyola Brandão , de Mário Prata, do Cony e tantos outros estiveram por muitos anos presentes no meu trabalho docente.
Uma outra boa lembrança ligada ao Estadão foi a classificação que consegui numa seleção de projetos para uso de jornal em sala de aula. Não ganhei o prêmio final, não fui para Boston como vencedora, mas guardo a alegria de ter participado e de ter despertado em alguns alunos o gosto pela leitura.
Torço para que o Estado honre sua História épica de luta e resistência e denuncie a arbitrariedade atual de um tal Lira e de uns senhores conhecidos como grupo da Faria Lima.
Se assim o fizer, Parabéns e vida longa...
Que continue combativo e independente...

Lucia Helena Carneiro

Viver é Perigoso

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