Lá pelo final dos anos 50 e começo dos 60, virou mania o uso do Perhaps. Desconfio que saiu de algum filme exibido no Cine Paratodos, cinema situado na Rua Dona Maria Carneiro que juntava centenas diariamente e pontualmente, às 19:30 horas, os chamados "amantes da sétima arte".
Ainda sobre o cinema, só lembrar que Pipe, grande mecânico e centro-avante do Smart, ao ser apresentado para alguém, dizia: John Derek, muito prazer. Da mesma forma, o amigo Milton Lobisomen, preferia ser tratado por Alain.
Voltando ao perhaps e registrando a existência de pouquíssimos professores de inglês na terrinha e aulas resumidas só aplicadas nos colégios, das irmãs e dos padres, ambos situados à enorme distância, tanto em termos de distância física, como do alcance econômico da maioria da população boavistana.
Tudo bem que o "i love you" sempre figurou em primeiro lugar nas paradas, mas em segundo, com todo o destaque, frequentava o "perhaps".
No Bar Caçador: - Bigodinho, tem sorvete de limão ? De imediato: - Perhaps
No Açougue: - Dito, tem alcatra ? - Perhaps
Na Farmácia: - Luizinho, tem óleo de fígado de bacalhau ? Perhaps
Em frente a Igreja de São José:
- Virgílio, você comungou hoje ? - Perhaps
- Dora, você pode fazer a minha unha à tarde ? Perhaps
- Dirce, você me ama ? Perhaps
O perhaps começou a perder a força quando um jovem amazonense vindo fazer o curso pré-vestibular para a engenharia, alugou um quarto na Rua Miguel Braga e trouxe a novidade "maybe", que justificava dizendo ser a mesma coisa.
"Maybe" não colou. Para a sociedade machista da época, pegava mal dizer o indefinido e até doce "maybe". Perhaps, mesmo sendo o "talvez", soava definitivo, não permitindo qualquer dúvida, muito embora fosse o dono da dúvida.
Com o tempo, ambos foram substituidos pelo tanquiu. Ou melhor Thank You.
Viver é Perigoso
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