de Carlos Castelo
Se há uma justiça cósmica então o Brasil foi presenteado com uma anomalia sublime chamada Millôr Fernandes. Nasceu ele, veja só a ironia, justamente no Dia do Filósofo. Ora, se Millôr não foi filósofo, então ninguém o foi: ele erguia silogismos como quem abre uma latinha de cerveja.
Os filósofos costumam ser homens sisudos, trancados em bibliotecas. O Brasil, por sua vez, decidiu cultivar um tipo raro: o filósofo de botequim que sabia mais sobre a alma humana do que dez volumes de Kant. Millôr pegava a tragédia universal, passava manteiga, e a servia como torrada no café da manhã. E nós comíamos.
O que me fascina é a habilidade desse sujeito de transformar o ridículo em dogma e o dogma em piada. Ele era uma espécie de Voltaire de sandália havaiana.
Para Millôr, o rei estava sempre nu, mas não bastava apontar isso: ele desenhava a nudez com duas orelhas de burro e um sorriso de canalha. E o povo, em coro, ria. Porque rir ainda é a única maneira decente de não enlouquecer.
Assim, neste 16 de agosto que celebra filósofos, eu digo sem medo: Millôr não nasceu, ele aconteceu. Como acontece um terremoto, um tsunami. Que sorte a do Brasil: em vez de um Platão, ganhou um Millôr. E que sorte a nossa, ainda hoje, poder citá-lo para lembrar que rir do mundo é, afinal, a mais nobre das tarefas. Viva o santo patrono do escracho tropical!
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Viver é Perigoso
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