segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SOB A LUZ DE VELAS

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector

3 comentários:

  1. Há um ditado chinês que diz que, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, ao se encontrarem, eles trocam os pães; cada um vai embora com um. Porém, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma idéia, ao se encontrarem, trocam as idéias; cada um vai embora com duas.

    Quem sabe, é esse mesmo o sentido do nosso fazer: repartir idéias, para todos terem pão...

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  2. "Eu acredito em Deus.
    Mas não sei se o Deus em que eu acredito é o mesmo Deus em que acredita o balconista, a professora, o porteiro.
    O Deus em que acredito não foi globalizado.
    O Deus com quem converso não é uma pessoa, não é pai de ninguém.
    É uma idéia, uma energia, uma eminência.
    Não tem rosto, portanto não tem barba.
    Não caminha, portanto não carrega um cajado.
    Não está cansado, portanto não tem trono.
    O Deus que me acompanha não é bíblico.
    Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos, algumas parábolas e um pensamento que não se renova.
    O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros, mas sua superioridade está na compreensão das diferenças, na aceitação das fraquezas e no estímulo à felicidade.
    O Deus em que acredito me ensina a guerrear conforme as armas que tenho e detecta em mim a honestidade dos atos.
    Não distribui culpas a granel: as minhas são umas, as do vizinho são outras, e nossa penitência é a reflexão.
    Ave Maria, Pai Nosso, isso qualquer um decora sem saber o que está dizendo.
    Para o Deus em que acredito só vale o que se está sentindo.
    O Deus em que acredito não condena o prazer. Se ele não tem controle sobre enchentes e violência, se não tem controle sobre traficantes, corruptos e vigaristas, se não tem controle sobre a miséria, o câncer e as mágoas, então que Deus seria ele se ainda por cima condenasse o que nos resta: o lúdico, o sensorial, a libido que nasce com toda criança e se desenvolve livre, se assim o permitirem?
    O Deus em que acredito não é tão bonzinho: me castiga e me deixa uns tempos sozinho.
    Não me abandona, mas me exige mais do que uma visita à igreja, uma flexão de joelhos e uma doação aos pobres: cobra caro pelos meus erros e não aceita promessas performáticas, como carregar uma cruz gigante nos ombros.
    A cruz pesa onde tem que pesar: dentro. É onde tudo acontece e tudo se resolve.
    Este é o Deus que me acompanha.
    Um Deus simples.
    Deus que é Deus não precisa ser difícil e distante, sabe-tudo e vê-tudo.
    Meu Deus é discreto e otimista. Não se esconde, ao contrário, aparece principalmente nas horas boas para incentivar, para me fazer sentir o quanto vale um pequeno momento grandioso: um abraço numa amiga, uma música na hora certa, um silêncio.
    É onipresente, mas não onipotente.
    Meu Deus é humilde.
    Não posso imaginar um Deus repressor e um Deus que não sorri.
    Quem não te sorri não é cúmplice."

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  3. Eu acredito em Deus

    UUUUUUUUUUUUUUUUUuufaaaa....
    Graças a Deus encontrei um ser humano, que tem visão do Onipotente como tento ver.
    Obrigado.

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