domingo, 4 de dezembro de 2016

COMO DOIS E DOIS SÃO QUATRO


Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
Como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

Sei que dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.

Ferreira Gullar, que tomou hoje tomou o barco, aos 86 anos.

Viver é Perigoso

2 comentários:

  1. Não há vagas

    O preço do feijão
    não cabe no poema. O preço
    do arroz
    não cabe no poema.
    Não cabem no poema o gás
    a luz o telefone
    a sonegação
    do leite
    da carne
    do açúcar
    do pão.

    O funcionário público
    não cabe no poema
    com seu salário de fome
    sua vida fechada
    em arquivos.
    Como não cabe no poema
    o operário
    que esmerila seu dia de aço
    e carvão
    nas oficinas escuras

    – porque o poema, senhores,
    está fechado: “não há vagas”
    Só cabe no poema
    o homem sem estômago
    a mulher de nuvens
    a fruta sem preço

    O poema, senhores,
    não fede
    nem cheira.

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  2. Anônimo das 19:35 horas,

    Esse é o Gullar contestador feroz, comunista, preso político e desiludido com Lula e o PT.

    Zelador

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