terça-feira, 13 de março de 2012

SOB A LUZ DE VELAS

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada 
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

ER

2 comentários:

  1. Esses poetas d'além mar são incríveis. Fernando Pessoa, como poucos, conseguiu retratar muito bem a alma humana.
    Tão fortes e corajosos, mas a alma suplica por atenção, por cuidado e, tantas vezes, morre muito antes do corpo.
    E pouco sobra. Resta o cansaço; enorme e inevitável. Simplesmente cansaço.


    Temos, todos que vivemos, 
    Uma vida que é vivida 
    E outra vida que é pensada, 
    E a única vida que temos 
    É essa que é dividida 
    Entre a verdadeira e a errada. 

    Qual porém é a verdadeira 
    E qual errada, ninguém 
    Nos saberá explicar; 
    E vivemos de maneira 
    Que a vida que a gente tem 
    É a que tem que pensar

    Laissez Faire

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